sexta-feira, 9 de setembro de 2011

LIVRO TANAKA, Shelley. MUDANÇAS CLIMÁTICAS, São Paulo: SM Edições, 2011

Não há nada no livro de Shelley Tanaka que os conhecedores da ciência do clima e dos possíveis resultados de sua mudança não saibam. Mas não foi para este público que ela escreveu. Premiada autora de obras para jovens, ela tem a mão para fazer um be-a-bá a partir de um tema cabeludo e espinhoso. Muito da lentidão da tomada de decisões de governos sobre questões relacionadas ao clima e de prevenção de desastres que advirão da nefasta ação antropogênica sobre o planeta deriva exatamente da complexidade da questão.
Como é difícil explicar ao público um linguajar de tortuosa compreensão, aqueles que negam a mudança do clima e defendem que o mundo não deve abandonar seus padrões, nem renunciar ao uso indiscriminado de combustíveis fósseis, nadam de braçada semeando a confusão, com o apoio de parte considerável da mídia. Como se pode dizer que dois invernos rigorosos seguidos obedecem à postulação científica de que existe um aquecimento global perigoso? Tempo e clima são coisas distintas, sendo que o primeiro (weather), uma medição de períodos curtos dentro de longos ciclos, não é indicativo das propensões do segundo (climate). Mas este é um dos argumentos preferidos dos céticos. Como se pode negar que o aquecimento poderá beneficiar certos países e certas agriculturas, dizem eles, deixando de lado o fato de que enquanto isso nossos recursos naturais se encontram à beira do colapso e nossos oceanos estão moribundos?
Tanaka nem menciona esta manipulação. O que ela faz é ensinar, e o faz com brilho, neste que talvez seja o volume mais didático sobre o tema lançado no país até hoje. Os capítulos são encimados por preciosas epígrafes, como esta frase do James Lovelock, o construtor da teoria de Gaia, que vê o mundo todo como um organismo único: "É como acender o fogo para se aquecer sem perceber que os móveis estão queimando". Lovelock se refere aqui à insensatez a que se joga o mundo ao não se dar conta do que, para cientistas e especialistas, é o óbvio. Ou, "como você pode dormir se sua cama está pegando fogo?", pergunta em sua melhor canção o grupo australiano Midnight Oil, "Beds Are Burning", o primeiro grito global sobre o aquecimento? (O vocalista da banda que se dissolveu em 2002, Peter Garrett, viria a se tornar ministro do meio ambiente da Austrália em 2007 e é um ativista conhecido mundialmente.) Contribuições como a de Tanaka e Garrett são muito importantes porque falam a um público que crescerá sentindo muitos dos efeitos do que gerações anteriores construíram e que herdará uma tarefa hercúlea, a da colocar o mundo nos trilhos.
"É muito difícil fazer previsões sobre o futuro", disse Niels Bohr, um dos pais da física quântica, citado em outra epígrafe. De fato. Apesar de o 4º. Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental Sobre a Mudança do Clima, de 2007, ter afirmado em termos inequívocos que o aquecimento global está aí, há muitas zonas de incerteza na academia. No entanto, com a informação de que corremos riscos, o melhor é adotar desde já o princípio da cautela e da precaução. "Como se dá com qualquer problema difícil de resolver, chega um momento em que é preciso parar de falar - ou de ler - sobre como e porque chegamos a tal situação, quem foi o culpado, quais são as dificuldades e o que vai ou não acontecer no futuro. É hora de agir", afirma Tanaka. Mas não é hora de parar de ler este relato simples e contundente, que deveria estar na mochila de todos os estudantes.

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