sábado, 1 de outubro de 2011

LIVRO SANTO AGOSTINHO. O Livre Arbítrio

SANTO AGOSTINHO. O livre-arbítrio. Tradução, introdução e notas de Nair de Assis Oliveira. Ver. de Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1995.

Quando lemos Santo Agostinho com a alma, e mergulharmos na meditação de seu pensamento, torna-se irresistível o desejo do conhecimento, da busca do essencial. É como se o universo se abrisse dentro de nós, e pudessemos com ele navegar nas profundezas do conhecimento humano.
Engana-se quem pensa que a leitura de Santo Agostinho seja algo ultrapassado. Ele é tão atual e majestoso como o foi á 16 séculos atrás. Santo Agostinho é fé, é razão, é questionamento, inquietação e desejo de saber.
Durante a leitura, parece que nos sentimos transportados para uma região obscura e secreta da alma, para um labirinto de idéias e imagens inconcebíveis ao homem superficial. É um mundo novo. E exatamente ai, no limite da fronteiriço entre a fé e a razão, que maravilhosamente vemos as águas se juntarem formando um só rio. Fica aquele sentimento do marinheiro que depois de longa viagem, descobre um novo continente.
O Livre Arbítrio é um convite ao conhecimento. Ao conhecimento interior, é filosofia na sua essência. Deus é mal? Deus é o autor do mal? porque existe sofrimento se Deus é bom? Esses e outros questionamentos são analisados à exaustão. Mas o leitor menos preparado não deve temer, pois vai bem acompanhado. Santo Agostinho não nos deixa sozinhos e como que abandonados a nossa própria sorte, perdidos numa floresta de pensamentos. Mas como astuto instrutor, vai nos respondendo na mesma medida em que nos questiona novamente , tudo isso num ciclo genial até o momento em que nós encontramos no centro de nós mesmos. E dai fica fácil descobrir porque toda vida é especial, e todo homem é único.
Santo Agostinho é um daqueles gênios com que a vida presenteia a humanidade de século em século. É um daqueles homens raros, por muitos incompreendido, por alguns subestimado, mas sempre respeitado.
Segundo Santo Agostinho, o homem é dotado de racionalidade e de uma vontade pessoal livre, que em si mesma já é um bem, para que cada ser humano em particular possa discernir que rumo seguir: para que se volte ao Bem supremo, Deus e, assim, possua-o na beatitude, isto é, na Vera Vita Beata; ou para d’Ele se afastar preferindo os bens inferiores da criação, em que consiste o mal moral ou o pecado, ou seja, a infelicidade humana. Com efeito, a vontade livre é mestra de si mesma e somente dela depende o mau uso do bem que ela é. E, tanto mais livre se torna quanto mais se conforma à ordem, submetendo-se a Deus.
Em suma, o livre-arbítrio é o sujeito moral, segundo a filosofia agostiniana. Essa dimensão da autonomia que permite ao homem responsabilizar-se por seus atos, simplesmente inexistia no Maniqueísmo, que definia o homem como um simples joguete de forças antagônicas que o constituíam; e Deus, como um dos princípios constitutivos da natureza humana, encerrado sob formas corpóreas, como pura materialidade, assim como as Trevas que se lhe opunham.
O mal, portanto, é um dos caminhos pelos quais a vontade livre pode se enveredar, porém, não no sentido de que existam coisas más a escolher – já que tudo o que existe é bom – nem tampouco de que seja da essencialidade do livre-arbítrio o pecar, pois Deus o deu para que o homem viva retamente. De fato, quem não é livre, não pode pecar, contudo, sem a possibilidade de pecar ou agir retamente, de infringir ou seguir a ordem divina, o homem não teria autonomia para buscar a Verdadeira Felicidade ou renegá-la nem poderia, consequentemente, conhecer a Justiça de Deus. Sobre a essencialidade do livre-arbítrio e a concepção de Justiça divina, conclui Santo Agostinho:
É verdade que o homem em si seja certo bem e que não poderia agir bem, a não ser querendo; seria preciso que gozasse de vontade livre, sem a qual não poderia proceder dessa maneira [...]. Há, pois, uma razão suficiente para ter sido dada, já que sem ela o homem não poderia viver retamente. Ora, que ela tenha sido dada para esse fim pode se compreender logo, pela única consideração de que, se alguém se servir dela para pecar, recairão sobre ele os castigos da parte de Deus. Ora, seria isso uma injustiça, se a vontade livre fosse dada, não somente para se viver retamente, mas igualmente para se pecar. Na verdade, como poderia ser castigado, com justiça, aquele que se servisse de sua vontade para o fim mesmo para o qual ela lhe fora dada? (AGOSTINHO, 1995, II, 1, 3)

Um comentário:

  1. Estudei Santo Agostinho na Faculdade de Filosofia. Mudou minha vida para melhor.

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