domingo, 16 de outubro de 2011

LIVRO OSPINA, Hernando Calvo. O terrorismo de Estado na Colômbia. Florianópolis: Insular, 2010.

Lançado no Brasil após longas polêmicas, por ter seu lançamento vetado na Editora da UFSC e sendo lançado pela Editora Insular meses depois, o livro O Terrorismo de Estado na Colômbia é uma obra de vital importância para se entender a conjuntura política deste país, e abre os olhos para entender diversas outras questões contemporâneas, como por exemplo, suas relações conturbadas com a vizinha Venezuela.
Hernando Calvo Ospina é um jornalista colombiano, refugiado político na França. Atualmente trabalha no jornal Le Monde Diplomatique, e não pode voltar a seu país, por conta das ameaças de morte que recebeu.
O livro trata dos primórdios da criação do estado colombiano, desde a luta de Símon Bolívar pela criação da “Gran Colômbia”, um estado que abarcaria várias das atuais nações da atual América Latina. E mostra que Bolívar estava certo quando, em 1828, afirmou que os Estados Unidos estavam fadados a trazer a miséria à America Latina. Foi de grande interesse das oligarquias colombianas, durante muito tempo, a interferência estadunidense no país, pois esta se mostrava vantajosa aos seus negócios.
O estado colombiano, segundo Ospina, possui uma espécie de “ditadura perfeita”, onde o terrorismo de estado atua. Nele, a democracia se mostra apenas teórica, pois movimentos sociais, sindicais e estudantis são reprimidos violentamente, geralmente com a eliminação de seus líderes. Diz-se, na Colômbia, que é mais fácil montar uma guerrilha do que um sindicato, pois os líderes dos movimentos costumam ser assassinados no dia seguinte. Toda a violência, diga-se de passagem, é apoiada pela Igreja Católica. Em relação a isso, o livro é bastante didático quanto ao surgimento das guerrilhas, pontuadas como necessárias para a sobrevivência daqueles que ousam resistir ao violento estado colombiano e suas imposições. Entre 1946 e 1958, estima-se que mais de trezentos mil liberais gaitanistas teriam sido assassinados. Inspirados em Jorge Eliécer Gaitán, um político anti-imperialista e populista que fora assassinado antes que pudesse se eleger, causando a ira de milhares, senão milhões de colombianos. Entre estes grupos guerrilheiros, nascia posteriormente, na década de 1960, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, mais conhecidas como FARC.
Podemos dizer que uma das principais contribuições do livro está nas diversas demonstrações da interferência estadunidense na América Latina desde o século XIX. A Agência Central de Inteligência (CIA), como já comprovado por documentos e relatos no decorrer dos anos, foi responsável pela inserção da Ideologia de Segurança Nacional na América Latina, resultando nas ditaduras que oprimiram suas nações. No entanto, a Colômbia mostrou-se um caso diferenciado; tamanha era a repressão estatal e o controle dos militares sob o povo que, mesmo a doutrina da Segurança Nacional fazendo parte da realidade colombiana, não houve a necessidade de um golpe militar, haja vista que os militares já possuíam enorme poder.
O governo, impossibilitado de agir a bel-prazer por conta de pressão internacional, viu como alternativa para seus problemas a criação de grupos paramilitares. O livro é enfático quanto ao apoio estatal aos grupos – embora o Estado convenientemente negue qualquer filiação a esses grupos e se diga perseguidor dos mesmos – e sobre o apoio que os paramilitares recebem de latifundiários, narcotraficantes, etc. Explicita também que o governo possui relações íntimas com os traficantes de cocaína no país; não é a toa que o agora ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, possuía relações com Pablo Escobar, narcotraficante conhecido mundialmente. Os exemplos dessa relação são diversos.
Ospina mostra um Estado que oprime o povo, limita sua liberdade, é subserviente à influência estadunidense, aplica a ideologia de Segurança Nacional, buscando inimigos internos, geralmente inexistentes, manipula eleições para beneficiar os liberais e conservadores (nomenclaturas diferentes que não mudavam o fato de ambas agirem da mesma forma), tortura dissidentes, mata povoados inteiros por questões de interesse político e econômico, elimina políticos populistas e anti-imperialistas que eventualmente tenham apoio da população ou tentem reformas; tudo com a ajuda dos Estados Unidos da América, que desde muito tempo tenta impor sua vontade aos países que julga inferiores como a soberana.
O livro possui uma linguagem fácil, mas a quantidade de informações dadas, a repetição de algumas questões, a pouca problematização – levamos em conta que o livro foi escrito por um jornalista, que possui uma metodologia diferente dos historiadores – e a eventualidade de uma não-familiaridade com a história da Colômbia por parte do leitor pode tornar a leitura do livro maçante, caso o mesmo não possua grande interesse no assunto. Altamente recomendado para quem se interessa pela história da América Latina e por aqueles que se interessam em estudar os impactos do imperialismo estadunidense no mundo, já que estuda uma caso bem específico. Entretanto, possivelmente não agradaria a leitores casuais.

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