domingo, 11 de dezembro de 2011

FILME DANÇA COM LOBOS - COSTNER, Kevin

COSTNER, Kevin. Dança com Lobos. EUA, 1990.


Desde o começo da televisão, o western foi um gênero de filmes e séries de sucesso. A passagem dos anos 50 para os 60 pode ter sido o auge do western para a TV, mas foi só em 1990 que o que talvez seja a maior pérola do gênero surgiu. Dança com Lobos (Dances With Wolves, no original), dirigido e estrelado por Kevin Costner, é indubitavelmente uma das maiores (e melhores) produções do cinema americano de todos os tempos.

O filme conta a história de John Dunbar, um oficial do exército da União durante a guerra civil americana. Logo no começo do filme, Dunbar se sente terrível por descobrir que terá que amputar a perna ferida. A idéia de viver sem uma perna mexe tanto com a cabeça do cidadão que ele resolve se suicidar, cavalgando abertamente no meio do fogo cruzado, atraindo os tiros do exército inimigo… mas Dunbar não morre. Inexplicavelmente, o homem escapa de todos os tiros, e acaba, sem querer, empolgando os homens de seu exército, que vencem a tropa confederada e tomam a posição inimiga. Depois da batalha, o cara é visto como um herói, e o cirurgião do próprio general cuida pra que a perna dele fique boa.

Como um prêmio pela bravura de Dunbar em batalha, os superiores do cara oferecem a ele o cavalo que ele cavalgou durante a batalha e a chance de escolher seu próximo posto. Ele pede então uma transferência para a fronteira oeste. E é aí que o filme começa a chegar no núcleo de sua história. Dunbar é transferido para um posto deserto, o forte Sedgwick, e começa a limpar e arrumar o local, esperando que os reforços cheguem. Suas únicas companhias são um lobo solitário (lobo mesmo, não é nenhuma metáfora ridícula pra caubói não), a quem Dunbar dá o nome de Duas Meias, por causa da cor de suas patas dianteiras e seu cavalo, Cisco. O cara começa a explorar sozinho as redondezas, quando descobre que índios Sioux-Lakota vivem por ali. O cara começa, então, a fazer contato com os índios, aos poucos, e acaba descobrindo que uma mulher branca vive como índia entre eles. Durante sua estadia no acampamento, Dunbar, que recebe dos índios o nome de Shu-mani-tu-tonka Ob’ Wa-chi (mas você só vai lembrar de “tatanca” durante o filme), passa a ver os índios não como os selvagens sanguinários que tinha ouvido falar, mas como um povo como qualquer outro. E ele começa a ver os motivos para alguns índios atacarem os brancos, como a matança dos búfalos que garantiam a sobrevivência dos índios, fornecendo comida, peles e por aí vai. É claro que saber que mais homens brancos estão vindo para o forte incomoda bastante tatân… er, Dunbar, que teme um conflito entre os dois bandos, sabendo que os homens brancos estão melhor armados e em maior número. Claro que eu não vou dizer aqui no que isso vai dar. Tiraria toda a graça do filme.

Um dos pontos mais marcantes do filme é que ele trata os índios de maneira diferente da maioria dos filmes de Hollywood, que geralmente tratam os índios ou como bandidos sanguinários que matam só por matar, ou como um povo infinitamente nobre e sem nenhum defeito, completamente irreal. Por ter retratado os Sioux como um povo de verdade no filme, Kevin Costner se tornou membro honorário do verdadeiro povo Sioux. Boa parte do filme é falado numa versão simplificada do idioma Lakota. A maravilha é que a linguagem tem tanto uma forma de fala masculina quanto uma feminina, e no filme, pra coisa ficar mais simples pros atores, só se usou a forma feminina. Imagina que maravilha ver os guerreiros da tribo todos falando como mulheres.

O filme ganhou sete Oscars, incluindo melhor filme e melhor trilha sonora. O próprio papa João Paulo II chegou a declarar que a trilha de Dança com Lobos é uma de suas peças de música favoritas. Enfim, um filme imperdível, ótimo em todos os detalhes.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LIVRO Fontova, Humberto-O Verdadeiro Che Guevara e o Idiotas Úteis que o Idolatram

FONTOVA, Humberto-O Verdadeiro Che Guevara e o Idiotas Úteis que o Idolatram. Editora É Realizações, São Paulo, 2009.

Transformado ao longo dos anos numa espécie de “Jesus Cristo revolucionário” graças aos esforços incansáveis da esquerda mundial, o argentino Ernesto Guevara é objeto de autêntico culto a personalidade em todo o mundo.
Entretanto, a leitura do livro do cubano-americano Humberto Fontova deixa claro que, embora Guevara seja um inegável sucesso de marketing político e comercial – com sua imagem estampando desde camisetas para bebes até biquíni vestido pela supermodelo Gisele Bündchen – na vida real pode ser considerado um fracasso.
Lançando mão de muitas fontes bibliográficas e orais, especialmente de ex-companheiros de Guevara, Fontova relata, de maneira impiedosa e irônica, como o argentino, muito longe do homem perfeito idealizado pela mitologia esquerdista, era uma pessoa ressentida, vingativa, incompetente e responsável direto pelo assassinato de centenas de pessoas absolutamente inocentes de qualquer tipo de crime.
Vindo de uma desestruturada família burguesa argentina simpatizante do comunismo, Guevara seria considerado, sob qualquer aspecto, um vagabundo, um andarilho perdido no mundo. Seu envolvimento com exilados cubanos no México após uma passagem pela Guatemala acabou levando-o para aventuras em Cuba, no seio do movimento armado contra o ditador Fulgêncio Batista.
A luta contra Batista é um capítulo a parte, que revela muito do modus operandi de Guevara e Fidel Castro. Diferente do senso comum, segundo o qual Batista foi derrotado por uma série de intensas batalhas movidas por guerrilheiros audaciosos, o que menos houve na derrocada de Batista foi luta armada. Castro operava, sobretudo, no terreno da propaganda, angariando dinheiro em grande quantidade, especialmente das elites cubanas, cansadas do regime de Batista, e as simpatias internacionais, em particular nos Estados Unidos, através da mídia que se encarregou de forjar a imagem de valorosos revolucionários para Fidel Castro e Che Guevara – que, aliás, nessa época era apenas mais um dentre vários colaboradores da revolução.
O regime de Batista caiu principalmente pela corrupção de suas forças, que aceitavam dinheiro de Fidel Castro para retirar-se sem luta, cansaço das elites cubanas e dos americanos em tolerar os métodos de Batista, e, em especial, a crença em que Castro e seus homens eram realmente democratas e honestos em seus objetivos.
Após a vitória na luta contra Batista, em pouco tempo a verdadeira face do regime revelou-se: violência, assassinatos, tortura e prisões. E Guevara teve papel fundamental nisso.
Neste ponto, Fontova faz uma clara distinção entre Castro e Guevara. Enquanto Fidel Castro era muito mais hábil, utilizando a violência como meio para atingir um fim, Guevara parecia ver na brutalidade e assassinatos um fim em si mesmo. Guevara acreditava que a “violência revolucionária” – leia-se, a morte sem piedade de todos os inimigos, reais ou imaginários – era a melhor forma de controlar o poder. Assim, desde o começo, Guevara ligou-se ao aparato repressivo do bloco soviético, transportando seus métodos para o cenário cubano.
Talvez o mais chocante para os fás de Guevara que por ventura lerem o relato de Fontova, seja a imensa distância sobre o significado que lhe é atribuído – um ícone da liberdade e igualdade – e sua real figura. Assim, um homem que é cultuado por líderes de minorias raciais, hippies, alternativos e jovens, tinha, na verdade, uma mentalidade racista, patriarcal, despótica e arrogante, desprezando negros, jovens, “cabeludos”, música – enfim, tudo aquilo que, dizem as esquerdas e desinformados em geral, Guevara simbolizaria.
Humberto Fontova mostra como essas e muitas outras incoerências foram e ainda são resultado do verdadeiro caso de amor que existe entre os meios intelectual e midiáticos, especialmente o norte-americano, e a ditadura de Fidel Castro, citando por exemplo o jornal New York Times, que repetiu com Castro exatamente o que já tinha feito, na década de 1930, encobrindo os crimes do regime de Stalin. [*]
A imensa incompetência de Guevara a frente do ministério da economia destruiu a infraestrutura cubana, desorganizando até hoje um dos países mais prósperos das Américas, levando o caos e a miséria a uma população cristã e orgulhosa, favorecendo sua submissão ao projeto de poder totalitário ambicionado por Fidel Castro. A este respeito, o autor mostra com números e informações detalhadas como Cuba era econômica e socialmente antes da chegada ao poder de Castro e Guevara e como ficou depois.
O livro revela episódios pouco conhecidos, como o envolvimento de Guevara em uma série de atentados terroristas frustrados nos EUA, logo após a chegada ao poder em Cuba, época em que os americanos ainda tinham ilusões quanto aos objetivos de Fidel Castro; o real significado da Crise dos Mísseis – que funcionou como um “sinal verde” para Castro impor seu regime totalitário a Cuba, já que teve a garantia dos EUA de que sua ditadura não seria incomodada –; a chamada “invasão da Baía dos Porcos” e a dura repressão contra a revolta popular mantida durante metade da década de 1960 pela população rural cubana contra o regime de Fidel Castro, como reação à coletivização forçada.
As aventuras externas de Guevara, primeiro no Congo e depois na Bolívia, em missões militares permeadas de muita retórica revolucionária vazia e nenhuma competência até mesmo para assuntos práticos elementares (como, por exemplo, ler uma bússola para não se perder na selva), resultaram primeiro no descrédito de Guevara como um líder revolucionário viável, após o fracasso no Congo, e, depois, em sua morte na Bolívia, encerrando assim sua vida e carreira de revolucionário que se pretendia genial. Curioso notar que tanto no Congo quanto na Bolívia Guevara foi confrontado por forças das quais faziam parte cubanos que haviam deixado seu país após o início dos desmandos do "Che" e Castro, e que demonstraram muito mais competência militar do que Guevara, cuja tão falada habilidade tática e estratégica encontra-se guardada junto com seus demais méritos, ou seja, na propaganda.
O livro de Humberto Fontova é valioso não apenas pelas suas informações, que inclusive podem ser um ótimo antidoto para os inocentes úteis simpatizantes de Guevara, mas por ser o único trabalho publicado no Brasil, em muito tempo, a ir contra o senso comum que transformou um homem medíocre em um deus no templo da ideologia comunista.
Destaque também para o documentário que acompanha o livro, “Guevara, Anatomia de um mito”, com imagens e depoimentos sobre Ernesto Guevara desde seus tempos de desocupado na Guatemala até sua morte na Bolívia, complementando de forma muito eficiente e sóbria o trabalho de Fontova.

[*] Nota: Um dos maiores biógrafos “chapa-branca” de Guevara citado várias vezes ao longo do livro de Fontova, o mexicano Jorge Castãneda, antigo esquerdista radical há alguns anos convertido ao socialismo light de cunho social-democrata atualmente predominante na política latino-americana e nos EUA, esteve há poucos dias envolvido num episódio no minimo curioso. Convidado para um evento na Venezuela, promovido pela oposição ao ditador Hugo Chávez, Castãneda criticou o fato de que “Chavez estava tentando criar outra Cuba” na América Latina. Para quem dedicou grande parte de sua vida a incensar o tirano Castro e vassalos do ditador como Guevara, essa é uma virada e tanto.